OS ECONOMISTAS AUSTRÍACOS QUE REFUTARAM MARX E SUA TESE DE
QUE O TRABALHO ASSALARIADO É EXPLORAÇÃO
Políticos adoram declarar
publicamente que sabem qual é o valor do salário mínimo que qualquer
trabalhador no país deveria receber. Só não explicam como chegaram a esse
valor e nem muito menos por que o valor escolhido não pode ser $1 maior ou
menor.
Adicionalmente, todos eles têm uma certeza:
empresários, empreendedores e capitalistas são exploradores sem coração que se
aproveitam da mão-de-obra de alguns de seus trabalhadores não lhes pagando a
"quantia justa" que seu trabalho genuinamente merece.
O que está por trás deste pensamento sobre o valor
"razoável" ou "justo" do salário mínimo é o fantasma de um
pensador que há muito tempo pensava-se que teria sido relegado à lata de lixo
da história: Karl Marx (1818-1883).
A teoria do valor-trabalho de Marx para o valor de
um trabalhador
A concepção de Marx a respeito da "escravidão
salarial" injusta que os capitalistas e empreendedores impunham a seus
trabalhadores tornou-se a premissa e o grito de guerra que resultaram nas
revoluções comunistas do século XX, com toda a sua destruição e terror.
Marx insistia em que o "valor real" de
qualquer bem produzido era determinado pela quantidade de trabalho empregado na
sua fabricação. Se a produção de um par de sapatos consome quatro horas de
trabalho, e se são necessárias duas horas de trabalho para preparar e assar um
bolo, então a "taxa de câmbio" justa entre essas duas mercadorias
deveria ser a de um par de sapatos por dois bolos. Dessa maneira, esses dois
bens seriam trocados a uma taxa que representa quantidades comparáveis do tempo
de trabalho gasto para produzi-los.
Se o trabalho de um operário produziu, digamos,
três pares de sapatos durante uma jornada de trabalho de doze horas, então o
trabalhador tem o justo direito à propriedade dos três pares de sapatos
produzidos pelo seu trabalho, de modo que ele poderia trocá-los pelos produtos
que quisesse adquirir dos outros trabalhadores.
Contudo, insistia Marx, o capitalista que contratou
o trabalhador não lhe paga um salário igual ao valor dos três pares de sapatos
que este produziu. Isso ocorre, segundo Marx, simplesmente porque o capitalista
é o proprietário da fábrica e das máquinas (a fábrica e as máquinas são a
propriedade privada que o trabalhador utilizou para produzir esses
sapatos). Logo, estando estes bens de produção em propriedade do
capitalista e não do trabalhador, o trabalhador tem de se sujeitar às demandas
do capitalista, aceitando assim entregar ao capitalista uma fatia daquilo que
sua mão-de-obra produz — caso contrário, morrerá de fome no frio.
O empregador paga ao trabalhador um salário somente
igual a, digamos, dois pares de sapatos, desta forma "roubando" uma
parte do seu trabalho.
Assim, na concepção de Marx, o valor de mercado do
terceiro par de sapatos do qual o capitalista se apropriou a partir do trabalho
do trabalhador seria a fonte de seu lucro, ou o ganho líquido sobre os custos
de contratar o trabalhador.
Eis aí a origem da noção marxista de "renda
imerecida", que seria a renda que não decorre de ter de trabalhar e
produzir, mas simplesmente de se ser o proprietário de um negócio privado que
emprega trabalhadores que realmente fazem todo o trabalho.
O capitalista, como você vê, não faz nada. Vive do
trabalho dos outros, enquanto fica sentado em seu escritório, com seus pés
sobre a escrivaninha, fumando um charuto (quando ainda era "politicamente
correto" fazer isso). Não é de se surpreender, diante deste raciocínio
sobre o trabalho, os salários e o lucro, que políticos e intelectuais não
tenham apreço por capitalistas e empreendedores.
Carl Menger e o valor subjetivo das coisas
Karl Marx morreu em 1883, aos 64 anos de idade. Uma
década antes de sua morte, no início dos anos 1870, sua teoria do
valor-trabalho foi derrubada por diversos economistas. O mais importante deles
foi o economista austríaco Carl Menger (1840-1921) em seu livro de 1871, Princípios de Economia
Política.
Menger explicou que o valor de um bem não deriva
da quantidade de trabalho despendida em sua fabricação. Um homem pode gastar
centenas de horas fazendo sorvetes de lama, mas se ninguém atribuir qualquer
serventia a estes sorvetes de lama — e, portanto, não os valorizar o suficiente
para pagar alguma coisa por eles —, então tais produtos não têm nenhum valor,
não obstante as centenas de horas gastas em sua fabricação.
Assim como a beleza, o valor — como diz o velho
provérbio — está nos olhos de quem vê. O valor de um bem é subjetivo: depende
do uso e do grau de importância pessoal (subjetiva) que alguém confere a esse
bem (seja ele uma mercadoria ou um serviço). Se o bem servir para algum
fim ou propósito, então terá valor para ao menos uma pessoa.
Bens, ao contrário do que diz a teoria marxista,
não têm valor por causa da quantidade de trabalho consumida em sua produção.
Por outro lado, uma determinada habilidade de trabalho pode ter grande valor
caso seja considerada útil (como um meio produtivo) para se alcançar um
objetivo que alguém tem em mente.
Adicionalmente, o valor de bens idênticos decresce
à medida que a quantidade delas aumenta. E isso ocorre porque atribuímos
a cada quantidade adicional de um mesmo bem à nossa disposição um propósito
menos importante do que o propósito já atribuído para as unidades previamente
adquiridas desse bem.
Por exemplo, à medida que acrescento camisas idênticas ao
meu guarda-roupa, cada camisa extra em geral terá menos importância para mim do
que as mesmas camisas que comprei anteriormente. Os economistas chamam isto de
"utilidade marginal decrescente dos bens".
Ninguém paga por um bem mais do que aquilo que
considera que ele vale
Assim, não há um valor mínimo "objetivo"
que seja inerente ao ato de trabalhar. Um empregador contrata trabalhadores
porque estes irão ajudá-lo a produzir um produto que acredita que poderá vender
a potenciais consumidores. Na medida em que o empregador contrata trabalhadores
com as mesmas habilidades específicas, cada um desses
trabalhadores é alocado para uma tarefa menos importante do que aquela para a
qual o trabalhador anterior, de mesma habilidade, foi contratado.
Como consequência, nenhum empregador pode pagar ou
irá pagar mais por algum trabalhador do que aquilo que acredita que seus
serviços valem (em termos de agregar valor às suas atividades de produção).
Sendo assim, o valor de um trabalhador depende do
tanto que o empregador acredita que o bem produzido vale para o público
consumidor, que é quem decide comprar — ou se abster de comprar — o bem que o
trabalhador ajuda a produzir.
Suponha que um empregador acredite que algumas das
pessoas de sua força de trabalho contribuem com não mais do que $ 6 por hora
para fabricar um produto que ele espera vender aos consumidores. Se o governo
lhe disser que ele tem a obrigação legal de pagar a cada um de seus
trabalhadores um salário mínimo que não pode ficar abaixo de $ 7,40 ou $ 10,10
por hora, não será nada surpreendente se ele optar por dispensar aqueles
trabalhadores que considera custarem mais do que produzem.
Adicionalmente, outros empregos que poderiam estar
disponíveis por $ 6 por hora nunca chegarão a existir.
Tudo o que um salário mínimo decretado pelo governo
consegue fazer é expulsar do mercado de trabalho aqueles trabalhadores cuja
contribuição para a fabricação de um produto é menor do que o valor que o
governo determinou que deve ser pago a eles.
Mas o que o empregador faz exatamente? No que ele
contribui para o processo de produção, para além do trabalho feito pelos
empregados contratados? Marx, conforme vimos, argumentou que o
"lucro" do capitalista seria o valor daquela fatia da produção do
trabalhador que foi apropriada pelo empregador simplesmente pelo fato de ele
ser proprietário do empreendimento no qual o trabalhador está empregado.
Böhm-Bawerk e a importância da poupança para a
geração de empregos
Outro economista austríaco, Eugen von Böhm-Bawerk
(1851-1914), que desenvolveu muitas das ideias que se originaram com Carl
Menger, respondeu a Marx.
Em uma importante obra em três volumes intitulada Capital and Interest (1914),
e em diversos ensaios, dos quais os mais importantes foram "Unresolved
Contradiction in the Marxian Economic System" (1896) e
"Control or
Economic Law" (1914), Böhm-Bawerk perguntou: de onde vêm os
empreendimentos nos quais os trabalhadores são empregados? E de onde vêm os
recursos que garantem o pagamento dos salários dos trabalhadores?
Como a fábrica foi construída? De onde vem o
capital — as máquinas, ferramentas e equipamentos — das fábricas, com o qual os
trabalhadores contratados realizam seu trabalho para produzir os bens que
eventualmente estarão disponíveis para os consumidores comprarem?
A resposta de Böhm-Bawerk foi que alguém
necessariamente teve de poupar uma parte dos rendimentos obtidos no passado
para, então, utilizar esses recursos poupados na construção da empresa e no seu
aparelhamento com todos os bens de capital necessários, sem os quais o trabalho
de qualquer trabalhador seria consideravelmente muito menos produtivo, com
muito menos quantidades produzidas, e muito mais imperfeito em sua qualidade.
O empreendedor que inicia um empreendimento tem
necessariamente de ou ter economizado os fundos necessários para cobrir suas
próprias despesas de investimento ou ter tomado emprestado de outros que
pouparam o necessário. Alguém teve necessariamente de se sacrificar, de abrir
mão do consumo no presente para que essas economias estejam disponíveis no
futuro para financiar o empreendimento. Quando o empreendimento for feito,
ele poderá então gerar um retorno financeiro no futuro, quando o produto houver
sido fabricado e for vendido.
Um indivíduo só irá abrir mão do seu consumo no
presente se ele for suficientemente compensado com um ganho futuro que faça
valer a pena abrir mão desse consumo e prazer no presente. Poupança é
sacrifício e esse sacrifício tem de ser compensado.
É por isso que são pagos juros. Juros são o
preço pago a alguém que optou por abrir mão do consumo presente para, com isso,
obter um valor maior no futuro. Juros são o preço que arbitram se os
recursos serão consumidos no presente ou investidos para o futuro. Juros
são o preço que os poupadores recebem no futuro por sacrificarem satisfações
mais imediatas do presente, até que as quantias emprestadas sejam pagas de
volta.
E o tomador de empréstimo paga esses juros porque
ele valoriza mais o uso que fará do dinheiro e dos recursos que toma emprestado
hoje do que todo o juro que pagará pelo empréstimo no futuro.
Empreendedores e capitalistas poupam os trabalhadores de terem de esperar
pelos seus salários
O fato de empreendedores terem esses recursos à
disposição — sejam eles oriundos de sua própria poupança passada ou de terem
pegado emprestado a poupança de terceiros — significa que aqueles que ele
emprega não terão de esperar até que os bens sejam produzidos
e realmente vendidos para receberem seus salários pelo trabalho que realizaram
durante o período de produção.
O empregador, em outras palavras,
"adianta" aos trabalhadores o valor de seus serviços enquanto o
processo de produção está em andamento, precisamente para aliviar seus
empregados de terem de esperar até que as receitas da venda dos produtos aos
consumidores sejam recebidas no futuro.
O fato de o trabalhador não receber o "valor
total" da produção futura simplesmente reflete o fato de que é impossível
o homem trocar bens futuros por bens presentes sem que haja um desconto no
valor. O pagamento salarial representa bens presentes, ao passo que os serviços
de sua mão-de-obra representam apenas bens futuros.
Com efeito, é por isso que é correto dizer que é o
empreendedor quem de fato "faz tudo", pois sem sua disposição e
capacidade para organizar, financiar e dirigir o empreendimento, seus
empregados não teriam trabalho e nem receberiam salários antes que um único
produto fosse fabricado e vendido.
A apreciação deste último ponto é de importância
crucial. O empreendedor não é somente o organizador da empresa e o investidor
que faz tudo acontecer; ele também é quem irá arcar com as consequências caso
não obtenha um lucro pelos seus esforços empresariais.
Empreendedores arcam com a incerteza de planejar
para o futuro
Os trabalhadores e todos os demais que fornecem ao
empreendedor os bens, serviços e recursos necessários para que todo o processo
de produção ocorra recebem seu pagamento enquanto o trabalho está sendo feito.
Já o empreendedor arca com toda a incerteza sobre se irá ganhar ou não o
suficiente com a venda de seus produtos para cobrir todas as despesas nas quais
incorreu. Ele, aliás, nem sequer sabe se conseguirá vender seu produto.
Ao pagar aos seus empregados os salários que foram
acordados por contrato, o empreendedor os alivia da incerteza a respeito de se,
no final do processo, haverá lucro, prejuízo, ou se a empresa ficará no zero a
zero.
É o empreendedor quem tem de fazer os julgamentos especulativos
e criativos sobre o que produzir e a que preços seus produtos poderão ser
vendidos. A precisão deste juízo empreendedorial em conseguir antecipar melhor
do que seus concorrentes aquilo que seus consumidores podem querer comprar no
futuro, bem como os preços que poderão pagar por esses bens, é o que
determinará o sucesso ou fracasso de seu empreendimento.
Assim, Karl Marx errou completamente ao não
entender o que determina o valor dos bens, o valor dos trabalhadores no
processo de produção, e o papel vital e essencial do empreendedor, que é
realmente quem faz com que as coisas aconteçam.
O mal decorrente das políticas baseadas em Marx
É de pouca importância se políticos e intelectuais
que vêem trabalho, salários e empreendedores sob uma ótica de conflito de
classes estão cientes do quanto suas concepções a respeito do capitalismo e do
mercado de trabalho são implicitamente derivadas e influenciadas pelas
ruminações obsoletas de um socialista revolucionário de meados do século XIX.
O que realmente importa é que políticas econômicas
baseadas nesses equívocos marxistas a respeito da natureza e do funcionamento
da economia de livre mercado irão gerar malefícios para aquelas mesmas pessoas
a quem, supostamente, tais políticas deveriam ajudar.
E tais políticas equivocadas destruirão ainda mais
os fundamentos essenciais do sistema de livre mercado, o qual, no decorrer dos
últimos duzentos anos, deu aos homens uma liberdade pessoal e prosperidade
material jamais ocorrida em toda a história humana. São políticas que destroem
a liberdade que as pessoas possuem para trabalhar e se associarem livremente
das maneiras que considerarem mais vantajosas, e que têm o potencial de levar a
sociedade a um caminho ruinoso e conflituoso.
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Leia também:
Fonte deste Artigo: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2324
